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Umas ideias sobre Platão



                 
 
         Nas sociedades onde predomina a visão idealista do mundo, a educação sempre ficará como uma ideia de perfeição. Um modo pelo qual é possível se alcançar a resolução de todos os males. Nessa concepção platônica da educação, idealismo e misticismo dão um toque de magia em tudo que se dela pode extrair de ideias e objetivos da educação. Tratamos essa ideia como sagrada e as pessoas que nela se envolvem como especiais e puras. Grande parte de nossa decepção com os resultados práticos e não-práticos, se dá pelo fato de que essa ideia de educação é completamente equivocada. Aliás, todas as ideias platônicas causaram e causam enorme prejuízo a sociedades. O mundo platônico perfeito e possível de ser alcançável através de ideias resultaram em sociedades frustradas.

                A concepção de uma ideia é o que determina sua prática. Ao conceber a ideia-educação como platônica, tudo que dela se extrai vai ser uma ação fantasiosa. Vivemos uma grande sensação de frustração do ponto de vista prático e humano. Prático porque muitas coisas que realizamos não nos traz nenhuma vantagem. A quantidade de produtos que fabricamos nos dá um sinal claro do nosso vazio. Apesar da montanha de coisas que temos ao nosso dispor, nada nos dá o sentimento de satisfação. Aprendemos a ter muito e não saber fazer nada. Isso nasce da ideia platônica de vocação. Esse idiota reduziu nossa capacidade de saber numa simples ideia de uma possível pré-disposição espiritual fruto de uma reminiscência. Coisa de doido.

                No ocidente, educação, república e democracia são instituições que operam platonicamente. A despeito de toda riqueza material que em uma ou outra se evidencia, a depressão é uma doença que cresce e o sentimento de existência diminui. Isso acontece porque ainda acreditamos que se não está tudo bem, é porque ainda não sabemos realizar na prática o que idealizamos como perfeição. A culpa é nossa. A ideia é perfeita. Aí mora todo equívoco. A ideia que temos das ideias é o caminho para nossa desgraça. Em nome do ideal democrático as desigualdades de toda natureza se consolidam. Em nome de um ideal de república, as coisas públicas ficam a cada dia menos pública.

                O cristianismo encontrou no platonismo todo seu alicerce. E após séculos de disseminação das ideias cristãs, as concepções platônicas se fortaleceram. Ensina-se desde a tenra idade, as concepções de Platão sobre a realidade. E todas nossas instituições se constituem instrumento de organizar nosso pensamento a partir dessa visão platônica de mundo. Acrescenta às três instituições anteriores, a família. É nesse local que as crianças são preparadas para o mundo de concepções platônicas. Sem essa terra apropriada, não haveria condições de prosperar os frutos das ideias de Platão. A primeira lição dos pais aos filhos é a de que nada acontece sem a vontade e a permissão divina. E se Deus é perfeito, nada dele se extrai se não a perfeição. Então, o filho, ao existir é vontade divina e, por conseguinte, perfeito. E os pais não são diferentes disso.


                Por mais estranho que pareça, todas as nossas diferenças nascem por conta da nossa ideia de perfeição. Afinal, se eu me acho perfeito e penso diferente de outros, logo os outros são imperfeitos. “O inferno são os outros”. Sartre. Então vamos criando os grupos de perfeitos e de não-perfeitos. Para tolerar os imperfeitos e suas ideias criamos a democracia. Uma instituição perfeita que permite aos intolerantes se tolerarem. O que temos em comum é essa predisposição de impor nossas convicções. Os modos de fazer isso são diferentes na nossa curta história de civilidade. Antigamente, a palavra. Hoje, a força. 

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